As avós

Ontem deliciei-me mais uma vez com o programa da inglesa Nigella na SIC mulher (claro!). Dizia ela que guarda e utiliza carinhosamente os cadernos de receitas das avós e da mãe. Achei um espanto! Consumo tudo com grande fervor quanto diz respeito às maneiras que as mulheres encontram de se perpetuar. Os bordados, as fotografias, as receitas, os poemas, os livros...
A minha avó Joaquina, mulher do campo, sobrevivente, trabalhadora e de poucos mimos e carinhos para com os netos e de quem, dizem, eu herdei o orgulho e o "nariz empinado" (eu prefiro a coluna direita!) ofereceu-me uma fronha bordada pela minha bisavó e que pertencia a jogo de cama do seu casamento. O gesto foi surpreendente para mim. Aquela mulher que me ensinou muito do que sou nunca tinha tido para comigo um gesto tão intimo. Tudo se circunscrevia às refeições, lanches, hortaliças que eu ia apanhar com ela para depois fazer a sopa do meu pai... Naquele dia, na minha casa, onde a minha avó estava por já não ser autónoma o suficiente, disse-me: "Toma lá ó nina!" E mandou (literalamente) a fronha branca, bordada e fresca de sabão azul para o meu colo. As lágrimas correram livremente pela minha cara. Abracei-a com o agradecimento de uma vida toda! E ainda me disse: "Quando eu morrer, quero que fiques com o serviço de chá azul que tanto gostas e que foi o desgraçado do teu avô que me deu no casamento!"
Para além do maravilhoso serviço de chá herdei também um móvel lindo que recuperei para o quarto da minha filha. Agora a minha avó Joaquina também está presente na vida da minha filha.
Obrigada avó!