Quando tinha 10 anos alguém me disse, enquanto passava à minha porta numa tarde de calor abafado de Agosto, que tinha morrido o Carlos Paião. Não acreditei à primeira. Não era possivel! Era tão novo! E cantava tão bem. E era médico! Continuei a varrer a entrada da minha casa e quando vi a minha mãe chegar do trabalho, corri para ela à procura do desmentido. Mas tudo o que consegui foi a confirmação que o play back tinha mesmo morrido! Chorei. Imaginava que a Cinderela já não ia usar mais pó-de-arroz para agradar ao seu Pedro... Fez-me falta!
Este ano de 2010 roubou-me muita gente! Gente que me falta. Isso mesmo: que me falta! Todos os dias...
A minha querida escritora e criadora do espirito da mulher, a Rosa Lobato Faria! Delicio-me com as suas palavras, os aromas das frases, as cores das descrições, as dores do mundo no nosso ventre. Que saudades já sinto da minha querida Rosa! Sinto-me uma leitora orfã! Faz-me falta!
Depois o mestre Saramago! O pai da Blimunda Sete-Luas que tinha de comer pão em jejum antes de ver fosse quem fosse pois, se assim não acontecesse, via as entranhas dos outros e o seu futuro! Que futuro agora sem Saramago? Que faço agora sem o elefante viajante, os cegos do munho, a jangada dura? Faz-me falta!
Agora o António Feio. O palco na alma. Alma lusa: critica, inteligente, humorada e dramática. Feio de nome, lindo de talento e espirito. Belo de vida. Faz-me falta!
Hoje o jornalista Bettencourt Resendes! As suas palavras sóbrias e seguras sobre o mundo serviam-me de manta quente de vida. Deliciava-me com a sua clarividência, a inteligência de não ceder ao populismo mediático, a razão da alma! Senti-o doente, fragilizado nas últimas aparições na TV. Tremi por dentro. Hoje tremi por fora. Faz-me falta!
Mas a memória em mim continuam a vossa vida! Bem-hajam por me tocarem de alguma maneira. Fazem-me falta!
